The Last Of Us - S01E01
Leva três segundos, talvez dois, para percebermos que não estamos diante de uma história trivial, costumeira.
Logo na abertura, somos arremessados num talk show ao vivo, onde um infectologista se recusa a entrar no clima de descontração do apresentador e dos outros convidados. Sem piadas ou joguinhos, seu tom preocupante logo engolfa todos os presentes. O apresentador se cala. O público se cala. O espectador em casa (você) se cala. Seria esse homem o anunciador do caos? O mensageiro do fim do mundo? Ninguém está feliz com o que ele tem a dizer. Ninguém quer se imaginar hospedeiro de um fungo que controla suas ações, levando embora sua racionalidade. Mas ali está ele, com evidências palpáveis de que uma pandemia assim possa se instaurar em breve. Dito e feito.
Baseado nos jogos The Last of Us (2013) e The Last of Us: Part II (2021), ferozmente aclamados pela crítica e público, a série nos coloca na pele suja de fuligem de Joel (Pedro Pascal) e Ellie (Bella Ramsey). Joel é um cinquentão que trafica bens de consumo dentro e fora de uma Boston murada e sitiada pelo exército. É bom saber que Joel não tá de sacanagem. Joel vai te espancar até a inconsciência se você passar a perna nele. Ellie, por outro lado, não é dali (embora não tenha um gênio menos forte). Foi trazida à força para a cidade por motivos muito específicos, porém determinantes, e deverá partir rumo ao Oeste, escoltada por Joel (contra a vontade dele), atravessando um mundo devastado por morte, destruição e decaimento.
Escrita por Neil Duckman, diretor dos jogos, e Craig Mazin, fã roxo dos games e criador da estupenda Chernobyl, também da HBO, já estava tudo escrito nas estrelas: o caminho da série seria o da excelência. Sem atalhos, sem clichês baratos ou perda de tempo. E temos a demonstração disso logo no primeiro episódio, cujo roteiro e direção brilhantes demonstram o peso e gravidade dramática que a história tem a oferecer. Ressalta, ainda, as poderosas atuações de Pascal e Ramsey, que não se limitam a espelhar, mas ampliam os personagens de Joel e Ellie, ressoando em seus talentos vibrantes uma história difícil de ser contada ou experimentada.
Outro destaque avassalador é a trilha sonora, que traz de volta algumas das músicas poderosas e identitárias dos jogos, sob comando do compositor original, Gustavo Santoalalla, que volta destruindo tudo e te sugando para a beleza horripilante de um mundo abalado por vinte anos de total destruição. A começar pelo tema do jogo que aqui serve de abertura. Segure seus pelos do pescoço, pois, como os zumbis da série, eles não mais serão subordinados à sua vontade quando esse tema tocar.
Para resumir o irresumível, trata-se de uma série obrigatória, a primeira a realmente fazer jus e ainda ampliar a potência de uma história originária nos videogames. Com roteiro, direção, trilha e design de produção além de impecáveis, The Last of Us tem dimensões cataclísmicas e o mundo das séries não mais será o mesmo após sua passagem assoladora.